A psicóloga Celina Macedo explica como educar seus filhos a lidar com dinheiro e tornar um adulto financeiramente controlado.
Em muitas famílias, dinheiro é assunto de adulto. E nem sempre é um assunto
agradável, porque se fala mais quando ele está fazendo falta do que para
planejar sonhos. Muitos pais dizem “eu queria comprar uma TV nova”, “eu queria
comprar uma bota nova”, “eu queria...”, mas no final da frase vem “não tenho
dinheiro”. O pior é que mesmo dizendo que não tem o dinheiro, a mãe volta feliz
do passeio no shopping com uma bota nova. Com essa atitude, ela passa ao filho
a lição de que o importante é realizar o desejo, independentemente de ter ou
não dinheiro, de ter que pedir emprestado ao banco, de pagar em várias vezes
com juros ou mesmo de se tornar devedora.
Será que essa é uma boa lição? Os filhos aprendem muito com as atitudes,
comportamentos e gestos dos pais. Por serem fortes modelos para os filhos, os
pais devem observar como eles próprios administram e agem quando o assunto é
dinheiro.
O segundo passo é conversar com o filho sobre o que os pais fazem para
ganhar dinheiro, como é o trabalho. Este pode ser um gancho para uma lição
sobre a origem do dinheiro (que não cai do céu) e sobre as contas que precisam
ser pagas todos os meses. Nessa hora vale pedir ajuda ao filho para não
desperdiçar, por exemplo, água e luz. O que for economizado pode servir para
comprar algo que ele queira no futuro.
É possível ter esse tipo de conversa com crianças, adaptando a linguagem de
acordo com a idade. Jogos e brincadeiras que simulem a vida da família também
são importantes para ensinar aos filhos que existem regras a serem respeitadas:
esperar a vez, fazer escolhas, ganhar e perder. Dar limites, ensinar a esperar
e a aproveitar oportunidades faz parte da educação financeira.
Filhos que recebem “não” sabem valorizar o "sim". Dizer “não” é
colocar limites. A criança deve aprender a lidar com frustrações. Com isso, ela
pode superar e aceitar as negações rotineiras. Longe de ser prejudicial, isso a
fortalece e a ensina a batalhar para ter o que realmente quer muito.
O filho precisa ter aquela sensação de friozinho na barriga, de “será que
vou ganhar?”. E, se ele quiser de verdade, deve esperar para ganhar em um
momento especial. Se não, a satisfação fica só no momento de receber e depois
de uma semana o brinquedo passa a ser mais um, em algum canto do quarto.
Por volta dos 6 anos já é possível dar semanada ao filho. Com ela, ele
aprende a gerir parte do orçamento da família a seu favor. Os pais devem
perguntar o que o filho gostaria de pagar com esse dinheiro: o lanche da
escola, a entrada do cinema, as guloseimas. Depois que a lista estiver pronta,
os pais devem fazer a conta e discutir se é possível dar ou não a quantia ao
filho todas as semanas. Tomada a decisão, o pagamento deve ser feito sempre no
mesmo dia e a criança precisa ter liberdade para se organizar, gastar e poupar.
Se o dinheiro acabar, será preciso esperar para a próxima semana. Os pais
vão pensar: “então, vou deixar o meu filho sem lanche?”. Não, ele pode levar o
lanche de casa. Dessa forma, o filho aprende que não pode comprar tudo o que
quiser, na hora que quiser. Ele vai aprender que é preciso fazer escolhas,
fazer trocas e esperar até a próxima semana. Inclusive, vai aprender que é
possível levar lanche de casa para economizar e juntar dinheiro para comprar,
mais tarde, algo que queira muito. Quando isso acontecer, tenho certeza que o
prazer da criança será imenso e ela vai saber dar valor ao que recebe.